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SMOKING PIPE
SACRED

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O USO RITUALÍSTICO DO RAPÉ

 

O que é rapé?

    A palavra rapé vem do francês “râper” (raspar). Basicamente, é tabaco moído, raspado ou pilado, inalado ou aspirado via nasal. Até o início do século XX, era bastante comum o uso de rapé no Brasil. Costumava ser vendido em caixinhas (semelhantes às de fósforo) ou estojos. Seu uso, neste caso, não é ligado a rituais (espirituais). O rapé elaborado puramente de tabaco está associado ao tabagismo e pode causar dependência e doenças associadas ao seu uso demasiado. Porém, o rapé utilizado para fins espirituais é composto por outras plantas utilizado por povos indígenas no norte do Brasil.

O tabaco sob o ponto de vista espiritual

    De maneira espiritual (xamânica ou ritualística), o tabaco é considerado uma planta de poder, sagrada e usada apenas para fins espirituais e/ou religiosos. Dentro de muitas tradições nativas, é considerada como uma planta mestre, também vista como um pai ou avô que contém toda sabedoria ancestral da floresta.

    O tabaco pode ser utilizado dentro dos quatro elementos. O tabaco do fogo é o tabaco queimado em cachimbos (e similares) e apenas baforado, sem tragá-lo. Neste caso é muito utilizado para rezar. Considera-se que a fumaça lançada ao ar carrega a oração até o Grande Espírito (Deus).

Foi através da civilização ou do “homem branco” que o tabaco tomou outra dimensão (viciante, cancerígeno, etc.). Na maior parte das tradições que fazem uso ritualístico do tabaco, ele jamais é tragado – é considerado um desrespeito com o espírito ancestral desta planta sagrada.

    O tabaco d’água é o tabaco preparado pela sua infusão em água (por alguns dias) e inalado via nasal ou oral (de acordo com o ritual). O tabaco da terra é tabaco seco mascado e cuspido (ritual da mascada) e o tabaco do ar é uso ritualístico do rapé (aspirado via nasal). O tabaco ainda é muito utilizado para oferenda (para a terra/Terra e para o fogo), considerado como uma forma de agradecimento ou oração.

    Quando o tabaco é utilizado espiritualmente, traz purificação, centramento, transforma energias negativas em positivas, serve de mensageiro.

 

O rapé indígena

    No norte do Brasil, povos indígenas usam o rapé há séculos (antes da chegada do homem branco). Algumas etnias, tais como a Huni Kuin – Kaxinawa e a Yawanawa, tem o rapé como uma “medicina” (associada ao uso terapêutico e espiritual).

   O tabaco utilizado para a elaboração do rapé é cultivado (orgânico) pelo próprio povo (e geralmente rezado em todas suas fases: plantio, cultivo, colheita, preparo). O tabaco mais conhecido é do tipo “mói”, que é preparado em corda.

    O rapé neste caso é constituído de tabaco (pilado) e cinza (pau pereira, cumaru, canela, canela de velho, entre outras).

Para esses povos, o rapé é uma medicina que contém um espírito com grande poder, trazendo curas, proteção e afastando todo tipo de males. Outro ponto a salientar, é que o rapé não é aspirado, mas sim soprado nas vias nasais através de uma espécie de canudo, chamado de “tepi”. Também pode ser auto aplicado através de um instrumento chamado de “curipe”.No passado, o rapé era utilizado apenas pelo pajé da tribo, para que pudesse se “conectar” ou integrar-se à natureza, podendo identificar males que pudessem atingir seu povo ou então, em rituais de cura, com o propósito de proteção espiritual, identificação da doença e, trazendo o poder do espírito desta medicina para curar.

    Atualmente, há uma maior difusão do uso do rapé para fins ritualísticos, não só nas tribos, mas também pelo Brasil a fora – por associações religiosas, grupos espirituais, terapeutas xamânicos, entre outros. Seu uso é associado ao ritual com Ayahuasca (Hoasca, Uni, Nixi pae, Santo Daime). As etnias Huni Kuin e Yawanawa, tradicionalmente usam o rapé em rituais com ayahuasca. Outro fato é que estas etnias há alguns anos, vem difundindo suas tradições, não só pelo Brasil, mas pelo mundo a fora. Deste modo, vários grupos religiosos que fazem uso ritual da ayahuasca (até mesmo o Santo Daime), vêm introduzindo o rapé em seus cerimoniais.

    O rapé e a ayahuasca possuem uma grande intimidade. A união destas energias gera maior luz, curas e alinhamento espiritual.

 

Rituais com o rapé

    O rapé usado em rituais, chamado de “roda de cura” é um cerimonial voltado a um uso terapêutico do rapé. A cerimônia pode ser constituída de vários rituais, tais como defumações, orações, cantos e a aplicação do rapé (usa-se a expressão “tomar rapé”).

    O rapé é uma medicina basicamente de conexão. Trata-se de um poderoso alterador de consciência (enteógeno). Saliento isto, pois o rapé, espiritualmente falando, tem o poder de abrir inúmeros portais e a pessoa pode acessar diferentes dimensões. Por esse motivo, é imprescindível estar em ambiente seguro e próprio para tal experiência. Os cantos, assim como em rituais com ayahuasca, tem um papel muito importante para conduzir a pessoa a um caminho de cura e iluminação.

    Rapé é coisa séria! O uso desta medicina deve sempre estar alinhado a um propósito espiritual. É preciso estar concentrado, em oração, procurando a firmeza, juntamente à entrega, para poder receber a cura ou a instrução espiritual.

 

Qualquer pessoa pode aplicar rapé?

    Não é qualquer pessoa que pode aplicar (soprar) rapé. Existe a diferença entre se auto aplicar e aplicar em outra pessoa. A autoaplicação é voltada às pessoas que fazem estudo com o rapé e, neste caso, é fundamental para que a pessoa possa identificar o próprio poder pessoal junto a esta medicina. Recomenda-se a autoaplicação para quem já passou por um ritual de cura com rapé e possua consciência e conhecimento desta poderosa medicina. Para os experientes, a autoaplicação é feita antes de aplicar em outras pessoas (como forma de estar conectado e protegido).

     É fundamental compreender que o motivo principal do estudo para aplicação de rapé é por algo muito simples: quando a pessoa assopra o rapé em outra pessoa há uma forte troca energética entre ambas (principalmente para quem recebe) e então pergunto: que tipo de energia a pessoa está recebendo?

    A medicina do rapé e baseada na intenção. Segundo as tradições indígenas, o rapé pode tanto curar como gerar doença e males espirituais, tudo depende da intenção de quem o usa e/ou aplica. Aplicar rapé é uma grande responsabilidade. Devemos conhecer e confiar plenamente em quem irá nos aplicar, pois estamos dando nossa vida nas mãos de outra pessoa. Quem aplica também recebe a energia da pessoa que recebe e, neste caso, não tendo um prévio estudo com o rapé, poderá estar recebendo energias densas que podem gerar inúmeros males e até doenças. Portanto, o estudo (dieta) é fundamental para ancorar e compreender a poderosa energia do rapé. Somente pessoas experientes (que possam orientar e ancorar) podem passar este estudo a alguém.

   O rapé é uma medicina sagrada – um espírito poderoso da floresta e, deve ser tratado como tal. É uma medicina muito forte que como já disse anteriormente, pode trazer o bem ou o mau, tudo depende de como é utilizado. Portanto muito respeito com o rapé...

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